domingo, 16 de setembro de 2007

Entrevista de Sara Santos ao "Expresso das Nove"

"Há falta de confiança entre o Estado e o cidadão, afirma Sara Santos
A insularidade e a burocracia são dois obstáculos que os autarcas enfrentam. A gestão financeira é um desafio.
O que a motivou a ingressar na carreira política?Motivou-me a possibilidade de participar num projecto de desenvolvimento da minha terra; a terra onde decidi viver e trabalhar, que no meu caso é também a terra onde nasci. E gostava que nela houvesse qualidade de vida, boas infra-estruturas, bons equipamentos, uma boa vida cultural e social. Enfim, acreditei (e ainda acredito) que podíamos ser cidadãos como quaisquer outros cidadãos do País ou da Europa. Reconhecia que havia muito trabalho a fazer e entusiasmou-me a ideia de participar nesse processo.Quais os principais desafios e obstáculos que enfrentou ao longo desse percurso?Os desafios são muitos e permanentes. Não sei se podemos distinguir "os principais". Um grande desafio que é constante na actividade de um autarca é a gestão dos recursos financeiros. Temos sempre muitos objectivos para concretizar e as receitas nunca são suficientes. E não me refiro apenas àqueles objectivos de investimento em obras, no "betão", como agora se gosta muito de dizer. Refiro-me também às acções imateriais, aquelas que são de investimento nas pessoas, que são prioritárias e também têm custos, embora não se vejam, como também não se vêem muitas vezes os resultados a curto ou médio prazo. Obstáculos, muitos: a falta de qualificação dos meios humanos, a insularidade - porque a distância é espaço, mas também é tempo -, uma administração pública demasiado burocratizada e obsoleta, a falta de confiança mútua entre Estado e cidadãos, o individualismo.Acha que o papel da mulher na política é desvalorizado?Não. Não acho que seja desvalorizado. Penso que os cidadãos não deixam de reconhecer o trabalho de uma política, só porque ela é mulher. Se assim fosse não elegeriam mulheres. Acho é que as mulheres têm que superar mais obstáculos para desempenhar o seu papel. Vivemos numa sociedade conservadora, é um facto, onde muitas atitudes que são toleradas, e consentidas até, nos homens, são censuradas nas mulheres, e onde a demagogia ainda apela à intolerância face à diferença, em vez da sua inclusão.Apesar de haver cada vez mais mulheres na política, certo é que este ainda é "um mundo de homens". O que é possível fazer para inverter esta situação?Talvez haja cada vez mais mulheres na política, mas não acho que essa participação tenha aumentado muito nos últimos anos. Penso que houve um determinado momento em que houve essa preocupação, e foi útil, mas acho que depois se descansou dessa luta. A diferença é que antes esse mundo não era favorável às mulheres, estas tinham que forçar a sua integração num meio masculino e adverso. Agora se não estão lá é por opção própria e é isso que é importante perceber porquê.São as mulheres que impõem obstáculos a si próprias e por isso procuram carreiras em áreas mais estáveis?As mulheres não impõem obstáculos a si próprias, impõem objectivos. E esses objectivos são muitas vezes difíceis de concretizar, mas não deixam de lutar por eles. Penso que as mulheres são mais dinâmicas, ou menos, mais empreendedoras, ou menos, em qualquer carreira. Não considero que haja áreas mais estáveis. A estabilidade ou instabilidade de uma sociedade afecta todas: a cozinheira, a professora, a operária, a autarca...Que conselhos pode dar para quem quer conciliar o trabalho e a família e simultaneamente não perder as oportunidades de carreira?Fazer sempre o que se gosta de fazer. Uma oportunidade de carreira só é uma oportunidade se nos tornar melhores como pessoas e mais felizes - e quando é assim, a conciliação é possível. Conhecem-se muitos casos de mulheres e homens com carreiras de sucesso e que não deixam de dedicar atenção às suas famílias.Quais os seus projectos em termos do futuro político?Os meus projectos foram apresentados há dois anos ao eleitorado que me elegeu para estes quatro anos de mandato.Que balanço faz do seu mandato enquanto presidente de câmara?O balanço posso fazê-lo de uma forma muito objectiva que é listar o que está feito e o que falta fazer: seria uma lista extensa de obras feitas e objectivos já concretizados. Mas a mim preocupa-me mais o que ainda tenho para fazer e a sua concretização será o meu "cavalo de batalha" nos próximos dois anos.Quais as principais carências do concelho das Lajes do Pico?Não temos um tecido empresarial forte que invista e inove. A oferta de emprego é escassa. E são escassos também os recursos humanos qualificados.Qual o grande projecto deste mandato?A qualidade de vida. Fazer do meu concelho um local privilegiado na Região para se viver e trabalhar.Como caracteriza as relações entre o Governo Regional e a Câmara Municipal das Lajes do Pico?São as relações institucionais normais entre um Governo e uma Autarquia. Confesso que são mais cordiais com alguns departamentos do que com outros e que há áreas onde gostaríamos de poder contar com mais alguma colaboração. Queremos sempre mais e melhor, é a nossa natural aspiração. Como autarca estou sempre disponível para colaborar em tudo o que de bom for feito pelo desenvolvimento do meu concelho.
Turismo potencia concelho
Que projectos tem a autarquia para dinamizar o concelho?O programa que apresentei ao eleitorado em 2005 era um ambicioso projecto de renovação do concelho em todos os níveis. Tinha como principal objectivo iniciar um desenvolvimento global, sustentado e duradouro. Para isso, elegemos o triângulo lazer-cultura-ciência como motor de uma estratégia de turismo, o principal elemento de desenvolvimento económico. Em torno disto, definimos todas as estratégias parciais. Para tal, considerámos ser tão importante ter uma unidade hoteleira ou um centro cultural, como reconstruir estradas e caminhos, recuperar zonas balneares e de lazer ou qualificar os estabelecimentos de ensino. Estamos a fazer tudo isso e muito mais a um bom ritmo. Neste pequeno período de tempo, iniciámos uma componente de turismo como a recuperação do Forte de Santa Catarina; na ligação património-cultura-ciência, concretizámos a recuperação da antiga fábrica da baleia SIBIL para instalação do Centro de Artes e de Ciências do Mar; lançámos uma empreitada de quase 1 milhão de euros para recuperação da rede viária municipal; estamos a requalificar toda a rede de estabelecimentos de ensino; no campo do lazer, recreio e desporto, destaco a concretização do primeiro campo de jogos, com relvado sintético e bancada, a piscina municipal e o apoio generalizado às muitas associações do concelho. Somos o município da Região com as maiores apostas em termos de cultura de referência. Portanto, o que desejo continuar a fazer para dinamizar o desenvolvimento económico e social do concelho é isto: solidificar o que está feito e continuar a trabalhar para deixar raízes de desenvolvimento. Para estes pouco mais de dois anos que restam, contudo, gostaria de ver concretizados mais projectos privados.
PerfilSara Maria Alves da Rosa Santos nasceu nas Lajes do Pico, em 1963. De formação técnica - trabalhou quase 20 anos na banca - dá, contudo, uma particular atenção ao desenvolvimento cultural e à promoção da educação. Exerceu funções como presidente de câmara substituta entre Janeiro de 2004 e Setembro de 2005. Foi eleita, em Outubro de 2005, para o cargo de presidente da autarquia das Lajes do Pico. Sara Santos assume-se como uma presidente de câmara de uma novíssima geração: não se reconhece na prática enquistada da velha política portuguesa nem naqueles que exercem os cargos públicos como gestores desinteressados. Na sua prática, integra os bons princípios de missão e de ética social dos mais velhos e os conhecimentos técnicos das novas gerações, qualidades a que depois junta o profundo conhecimento da sua terra e a sua capacidade de concepção e concretização de projectos em prol da comunidade.
ISABEL ALVES COELHO" in semanário "Expresso das Nove"

5 comentários:

Anónimo disse...

Qual o interesse?

Anónimo disse...

Esta entrevista de Sara Santos é um documento do melhor que tenho visto sobre o que é o discurso político. Parece que este concelho vive no melhor dos mundos; que a iniciativa privada é a única entidade com culpas no cartório; que no concelho das Lajes existe um simbiose perfeita entre cultura, economia qualidade de vida; que a visão da autarca é uma visão perfeita, com sentido de futuro e com os pés assentes no chão!...Que discurso profundo tem esta autarca face às perguntas inocentes da jornalista do EN. Faltou perguntar (e isso é um erro crasso da jornalista e denota a sua falta de conhecimento da autarca em causa) como explica a edil a escolha do marido para seu acessor, e como pode ultrapassar-se o distanciamento entre os cidadãos e o estado.
SS parece que tem eleição assegurada no próximo mandato. Quem a não conhece julga que é assim, mas quão diferente é o dito e o feito desta mulher edil que tem desiludido os seus concidadãos, com projectos desadequados, desajustados ás necessidades e sem capacidade para criar empatias e atrair investimentos externos...Como é diferente este Concelho em que vivemos do que Sara fez passar ao Expresso das Nove...

Anónimo disse...

Sara Santos está a cumprir o seu mandato e os projectos que colocou a votos ao eleitorado se não gostassem não tivessem votado nela e neles por isso se realmente ela cumprir todo o que estava no seu programa eleitoral é uma grande mulher(pena é estar com o homem com quem está e o de ter colocado naquele cargo).
O PS local em vez de se preocupar tanto com o dito chefe devia era pressionar o governo para fazer mais pelas Lajes como é o caso do ultimo post o do caminho de acesso á muralha que deveria ficar.

Anónimo disse...

O Votante tem toda a razão.Afinal o que tem o chefe para aqui.
Se ela fosse do PS, pelos vistos estaria tudo bem. Agora chamar "atrazada" à jornalista, pois é isso que deixa transparecer na sua observação, é falta de solidariedade para quem se alvora, em, orgulhosamente, ser jornalista.

Anónimo disse...

(Dados Censos de 1991)
Ilha do Pico – 15202
Concelho Lajes do Pico – 5563

(Dados Censos de 2001)
Ilha do Pico – 14806
Concelho Lajes do Pico – 5041

Ou seja, nestes 10 anos a ilha do Pico perdeu 396 habitantes, o Concelho das Lajes perdeu 522 habitantes…