"O Pico no que respeita à vivência da fé anda a quatro velocidades: a Zona da Madalena fervorosa mas muito tradicionalista, São Roque um pouco apática, Lajes muito morta e a Ponta da Ilha isolada como se de um microclima se tratasse."
Mais adiante, o referido articulista acrescenta: " O Pico é uma ilha e infelizmente tem três concelhos que vivem do egoismo e de bairrismos infantís que impedem o nosso desenvolvimento."
Quem acusa "saudosistas, carreiristas e aristocratas decadentes que ignoram o Evangelho" mas reconhece que " o Pico é uma ilha, uma unidade, uma Igreja e não uma manta de retalhos como alguns pobres de espírito, teimam em defender", revela não ter capacidade para conhecer e aceitar as diferenças, falta de diálogo pastoral, desconhecimento da história e da cultura local e distanciamento relativamente ao fenómeno sócio-religioso.
Antes de estampar estas reflexões descontextualizadas e desconexas no semanário da paróquia das Lajes do Pico, Paulo Silva deveria ter partilhado o que pensa com os leigos e organismos da sua Zona pastoral. Certamente, desse diálogo que parece não ter existido, teria resultado uma visão mais compreensiva sobre práticas e vivências religiosas que se devem também, e sobretudo, imputar ao clero de que ele faz parte. O seu escrito contradiz, portanto, a alegada "Unidade Eclesial".
A Igreja de Jesus Cristo, é a Igreja Povo de Deus, não a igreja hierárquica. Os sacerdotes estão ao serviço da construção da(s) comunidade(s) e não devem arvorar-se em proeminentes sábios e juízes como na época constantiniana e feudal.
Transformar o clero em casta "sagrada", em senhores da verdade absoluta, tribo intocável e autoritária, é um contra-testemunho para os simples fiéis, discípulos da Igreja e da mensagem de salvação que seus pais lhes legaram.
Este respeito para com os crentes, deve presidir sempre a quaisquer julgamentos que se façam sobre a fé de cada um.
Até porque "só Deus conhece o interior de cada homem ou mulher".
(Deixo para outra ocasião a reflexão de P.S. sobre a função pastoral do Santuário do Bom Jesus, e a pastoral paroquial.)